Carapuça - um nome diferente e muita história para contar

             As cidades pequenas e hospitaleiras do interior têm, em sua maioria uma distribuição de terras desigual e muito interessante; enquanto a zona urbana ocupa um pequeno espaço territorial, a zona rural toma conta de grande parte da extensão do município e muitos deles possuem vários povoados que tem uma história própria.

Capela de São Pedro da Carapuça
            Em São Tiago não é diferente. O município possui um distrito, denominado Mercês de Água Limpa, mais conhecido como Capelinha, e doze povoados na zona rural: Capão das Flores, Fundo da Mata, Tatu, Patrimônio, Chapada, Córrego Fundo, Jacaré, Cajengá, Germinal, Melos, São Pedro da Carapuça e Içara, sendo que estes dois últimos com características quilombolas.
            De acordo com Marcus Antonio Santiago, professor e pesquisador, as histórias de cada um desses povoados, muitas vezes ligadas à religião e crenças das pessoas que habitam e habitavam esses lugares, ajudam a remontar a história do município e da região. Em uma pesquisa intitulada “Efemérides do Povoado de São Pedro da Carapuça”, Santiago faz um levantamento da história do lugar e afirma que saber sobre essas histórias é muito importante para resguardar a memória e todas as heranças que o tempo deixa às pessoas. “Nem todos os povoados de São Tiago têm sua história registrada como a Carapuça. Juntar essas informações e poder passar para outras pessoas constitui a principal forma de manter viva a memória desse lugar”.
            Segundo o levantamento, São Pedro da Carapuça, ou apenas Carapuça, é um dos maiores povoados do município. O início de sua povoação não é dado com precisão, já que no lugar havia uma antiga fazenda, mantida sob o antigo regime colonial, dando ao povoado a característica de quilombola.
            Rita de Cássia Viana, moradora do povoado, explica a origem do nome “Como era costume da época, os antigos e ricos fazendeiros ao demarcar seus terrenos, logo construíam o casarão e também uma ermida em honra ao santo de sua devoção. O primeiro dono das terras construiu uma pequena ermida em honra a São Pedro e os donos que se seguiram mantiveram aquela tradição e devoção ao santo. Carapuça foi um complemento dado para diferenciar e fazer referência à pedra que existe nas proximidades em formato de uma carapuça.”         
             São Pedro da Carapuça, que já pertenceu à cidade de Bom Sucesso, é distante de São Tiago 22 quilômetros. Com cerca de 250 moradores, o povoado não possui mais do que uma mercearia e um bar. Além disso, possui também um pequeno posto se saúde que funciona para a marcação de exames, distribuição de alguns medicamentos e para atendimento médico uma vez por mês. Para suprir outras demandas, os moradores precisam ir à São Tiago ou Bom Sucesso o que, segundo Rita não é tão difícil. “Apesar de ter que enfrentar estrada de terra, hoje o acesso às cidades próximas é mais fácil já que muitos têm carro e aqueles que não têm, podem usar do transporte oferecido pela prefeitura para buscar e levar nossas crianças à escola.”
            Apesar de depender da cidade para algumas coisas, o povoado tem sua própria economia produzindo quase de tudo que precisa. Ainda de acordo com Rita, quase todos os moradores cultivam café, arroz, feijão, milho, mandioca, entre outros, e o que não pode ser produzido é comprado em São Tiago ou na mercearia do povoado. “A maioria das famílias se sustenta do trabalho na roça e algumas complementam a renda com a lavagem de roupas e fabricação de sabão, doces e cachaça”. 
            Para não ter que comprar carne em açougues, muitas famílias criam porcos e abatem em forma de mutirão, onde todos ajudam e ganham um pouco do que foi “produzido” no final.  Como ressalta Rita, “a vida simples no lugar nos dá a sensação de viver na mesma época em que o povoado surgiu: quintal grande com ‘horta de couve’ e remédios plantados para acudir nas horas em que não se pode ir à cidade, forno e fogão à lenha e a simplicidade das pessoas que não trocam a Carapuça pela cidade.”

A capela de São Pedro e sua importância para a Carapuça            
            A atual capela de São Pedro da Carapuça foi edificada pelos segundos donos das terras no ano de 1934, no lugar da antiga ermida, quando houve demolição do velho casarão construído nos tempos coloniais.
            De acordo com a pesquisa de Santiago, a capela tem estilo simples e singelo, como as capelas rurais da época. Seu frontispício traz, na parte alta, a cruz e a porta central de entrada. Na torre existem dois sinos pequenos, sendo que um deles traz uma inscrição de 1953, possivelmente ano em que a capela foi aumentada.
            No altar-mor, em madeira, que caracteriza peça fundamental da época da edificação, está a imagem de São Pedro e presume-se que ela foi adquirida no século 18. É talhada em madeira policromada, segura nas mãos as chaves simbólicas do céu e tem sobre a cabeça uma auréola. Quando há possibilidade batismos, primeiras eucaristias e casamentos são realizados.
           A tradicional festa de São Pedro é realizada no dia 29 de junho. Promovida por membros da comunidade, é o cartão de visita do povoado. Muitas pessoas de diversos lugares participam e dentre as atividades dos dias festivos há cavalgadas e movimento de barraquinhas. À noite, o mastro de São Pedro é levantado e uma grande fogueira,  acesa.

Texto: Michele Santana
Foto: panoramio.com
--
Para copiar e reproduzir qualquer conteúdo da VAN, envie um e-mail para vanufsj@gmail.com, solicitando a reportagem desejada. É simples e gratuito.

0 comentários:

Postar um comentário



Zuenir Ventura no 8º Felit


Veja mais vídeos da região do Campo das Vertentes




 


DEPENDENTES DAS TECNOLOGIAS


Veja mais vídeos da região do Campo das Vertentes