Novas regras para arrecadação do ICMS Cultural são aprovadas

Igreja de São Francisco de Assis, uma das
construções beneficiadas com o ICMS Cultural.
Foto: Divulgação
A Nova Proposta Deliberação Normativa foi aprovada pelo CONEP depois da discussão em vários municípios
A proposta para nova deliberação nas regras referentes ao repasse do ICMS Cultural foi divulgada no site do IEPHA (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais) depois de passar por aprovação no CONEP (Conselho Estadual de Patrimônio Cultural), mas só vale para o repasse do ano que vem. O processo para a mudança das normas de arrecadação incluiu não só a apresentação da proposta por parte do IEPHA, mas também vários fóruns regionais que permitiram a discussão ampla nos municípios mineiros, com possibilidade de alteração das possíveis novas deliberações, de acordo com a realidade das secretarias de cultura.
Em São João del-Rei, o Fórum Regional para a Discussão da Nova Deliberação Normativa do ICMS Cultural aconteceu no dia 11 de agosto e contou com a presença e opinião de vários representantes de setores da cidade e região envolvidos com a preservação do patrimônio histórico e cultural. Segundo Rogério Stockler, diretor da ODEPAC (Organização de Defesa do Patrimônio Cultural de Minas Gerais) e Conselheiro Relator da proposta de modificação da Deliberação Normativa do ICMS Cultural no CONEP, a iniciativa dos fóruns regionais é inédita: “Foi a primeira oportunidade de debate com o objetivo de trazer a visão dos municípios para o conselho”, explicou.
A reunião na qual Stockler levou as opiniões dos representantes ao Conselho aconteceu dia 25 de agosto, mas o IEPHA divulgou apenas no dia 30 a resposta do que seria a nona deliberação normativa a cerca do ICMS Cultural – mesmo ainda sem o documento completo divulgado. A importância dessa decisão afeta as cidades mineiras com grande intensidade, já que muitos municípios dependem exclusivamente dessa arrecadação para a manutenção de seu patrimônio. “Temos que fazer com que a proposta acabe com a burocracia e realmente se ocupe com a manutenção do patrimônio”, contou ele.
O ICMS Cultural
Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar,
também mantida com arrecadação
do fundo de cultura. Foto: Divulgação.
O ICMS, Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, é arrecadado pelos estados e, de acordo com a Constituição Federal, 75% do valor deve ser passado para os municípios conforme o volume de arrecadação e os outros 25% são distribuídos por lei estadual (por necessidade de cada estado). Os critérios para esta parcela de 25%, no caso de Minas Gerais, foram definidos pela lei Robin Wood (Lei n.º 12.040/95), dispondo as seguintes categorias de arrecadação: a população, a área territorial e a receita própria de cada município, e os investimentos em educação, saúde, agricultura, preservação do meio ambiente e do patrimônio cultural. No caso da variável Patrimônio Cultural, coube ao IEPHA a elaboração e implementação dos critérios para o repasse de recursos do ICMS aos municípios.
Desta forma, uma tabela de pontuação define, com base nas ações e políticas culturais e tombamento de bens, categorias como: Núcleos Históricos (NH), Conjuntos Paisagísticos (CP), Bens Imóveis (BI) e Bens Móveis (BM). Dentro dessas divisões, os bens materiais e imateriais são catalogados e colocados nas normas para a apresentação e comprovação frente ao IEPHA todos os anos – e os pontos somados nas categorias determinam quanto dinheiro irá entrar.
Segundo o secretário de Cultura e Turismo, Ralph Justino, a importância da arrecadação do ICMS é grande. “A secretaria vive do fundo de cultura, boa parte do nosso orçamento depende disso”, explicou. Por este motivo, a nova deliberação deve receber atenção especial não só dos servidores públicos, mas também da população, já que a conservação do patrimônio acontece por meio desse dinheiro.
“Com um trabalho que evoluiu durante os anos, conseguimos colocar a cidade numa boa posição e agora estamos entre os cinco municípios mais bem pontuados”, contou o secretário. Na colocação para o recebimento de 2012, divulgada em agosto, São João del-Rei ficou em quinto lugar no ranking geral e em primeiro na região das Vertentes; somando 29,40 pontos. No ano passado, alcançou o sexto lugar, com 29,80 pontos. Porém, a cada ano mais municípios enviam documentação, o que faz com que o montante seja mais dividido: em 2010, 692 cidades mandaram documentos, em 2011 foram 700 municípios e em 2012, 702.
A mudança
A Proposta para Nova Deliberação Normativa continha algumas falhas. “Do jeito que estava antes dos fóruns, se fosse aprovada, iria piorar”, explicou Rogério Stockler. “Por isso, todos os municípios participaram do processo, apontando os erros”, disse.
Por exemplo, uma das deliberações presentes na proposta coloca para os municípios um projeto de educação patrimonial pronto, que deve ser aplicado. Antes, as cidades mandavam para o IEPHA um projeto (próprio) em um ano e seu relatório no outro; assim sucessivamente. Na nova proposta, o projeto é pronto e deve ser obrigatoriamente aplicado. Mas, como Stockler e todos os presentes no fórum concordam, essa nova norma pode empobrecer as ações na área de educação patrimonial, já que em muitos municípios, os projetos já são bem avançados e produzem resultados de muito mais qualidade do que o apresentado. Além do fato de que a realidade é diferente em cada cidade, nem sempre permitindo que um padrão assim seja estabelecido.
Por esse motivo, as discussões realizadas foram parte integrante do processo. Porém, como o IEPHA ainda não divulgou o documento completo que explica o que mudou, ainda não há como saber o que as discussões alteraram. O site do Instituto apenas informou sobre a decisão e esclareceu que entre as mudanças feitas estão o maior envolvimento dos setores responsáveis nas prefeituras e a frequência de reuniões para os Conselhos Municipais de Patrimônio.

Texto: Íris Marinelli


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