Caminho Religioso da Estrada Real beneficia turismo regional

Fotos: Arquivo Francisco Braga

O projeto Caminho Religioso da Estrada Real: de Padroeira a Padroeira (CRER), que está no início de sua fase de implantação, promete aquecer o turismo de São João del-Rei e região. Baseado no Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, pretende ligar 81 municípios mineiros e cinco paulistas em um circuito baseado nas principais tradições católicas das cidades. São João del-Rei terá participação fundamental no Caminho; em reunião que acontecerá na cidade no dia 19 deste mês, será discutida a definição do trajeto.
Tendo o início em Aparecida do Norte (SP), o CRER atravessará as Minas até chegar em Caeté (MG), ligando em 600 km as padroeiras Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora da Piedade. Com a proposta de criar um caminho de peregrinação que proporcione reflexão e meditação, terá como público-alvo caminhantes, ciclistas e cavaleiros. Os peregrinos receberão um passaporte que será carimbado a cada nova cidade percorrida, certificando assim a participação e conclusão do circuito.
O CRER abrangerá três arquidioceses (Aparecida, Belo Horizonte e Mariana) e três dioceses (São João del-Rei, Campanha e Lorena). A diocese de São João é responsável por 19 cidades integrantes, explicando assim sua importância na execução do projeto. “São João del-Rei tem uma importância muito grande, é parceira desse circuito. É tida como importante centro de fé, tem um calendário muito rico de festas populares, tem um enorme patrimônio cultural. E tem vários atrativos, como a Semana Santa, a Festa do Senhor dos Passos e as de Nossa Senhora. E muita coisa está sendo resgatada na cidade, como a Festa do Divino, Nhá Chica”, explica o literato e representante do Bispo da diocese de São João del-Rei na assinatura do termo do Caminho Religioso, Francisco José dos Santos Braga.
Além disso, Braga explica que a cidade também tem a característica de ser peça chave na região das Vertentes: “Desde o início ela foi destinada a ter funções regionais, desempenhar um papel mais regional do que local. São João conduz, não é conduzido”. Para ele, a cidade terá papel decisivo na execução do CRER
Entretanto, o diplomata acredita que ainda há muito a ser feito para que o projeto seja consolidado. “Precisamos criar uma infra-estrutura para turistas que infelizmente ainda não temos, que ainda não exploramos. Iremos receber muito mais turistas e não estamos preparados  para isso”, explica, afirmando que ainda temos problemas com a falta de restaurantes, hotéis, guias-turísticos habilitados para receber os visitantes, etc. E completa: “Ou nos organizamos ou não tem solução. Esse projeto é feito com rigor, tem obrigações que devem ser cumpridas.”
Para Braga, precisamos de uma organização nos moldes do Caminho de Santiago de Compostela. Essa opinião é compartilhada pela presidente da Associação de Amigos de São João del-Rei e coordenadora da Atitude Cultural, Alzira Agostini Haddad, que teve a oportunidade de conhecer o caminho espanhol. “É muito interessante a gente perceber como esse caminho é tão bem planejado, divulgado e integrado na estrutura turística da Europa. No caminho que percorri, saindo de Portugal e entrando na Espanha, a gente vê como as cidades são preservadas, organizadas, como que isso ajuda a cultura, a paisagem”. Para ela, o mesmo deve ser feito no CRER, com ênfase na infra-estrutura e divulgação.
Francisco Braga acredita que São João del-Rei ganhará muito com a consolidação do projeto, pois as cidades participantes receberão mais verba estadual para cultura e turismo, como foi decidido com autoridades do estado de Minas Gerais na assinatura do termo na FIEMG de Belo Horizonte, em julho. Além disso, a infra-estrutura deverá ser aumentada e o turismo crescerá na cidade. Braga ainda aposta em mais: “Uma vez iniciado o processo, a gente espera que uma educação patrimonial seja implantada na região”.
Alzira Haddad também acredita que São João apresentará melhorias com a implantação do CRER, pois “isso chama atenção pra importância do turismo religioso e arquitetônico, da preservação da cultura. Tem a questão da gastronomia, das festas... acaba que tudo interage, acrescenta e soma a essa questão de fé”.
E fé é a palavra principal para a criação do Caminho Religioso: “É a fé popular que move o turismo religioso. Não estamos inventando nada, estamos apenas oficializando um caminho já reconhecido, ligando cidades que mantêm tradições há mais de 300 anos”, finaliza Braga.

A região
Entre as cidades da região que farão parte do trajeto se encontram Prados, Tiradentes, Lagoa Dourada e Carrancas. Além disso, várias outras fazem parte da área de influência, como Itutinga, Nazareno, Ritápolis, Coronel Xavier Chaves, Resende Costa e Conceição da Barra de Minas.
Segundo Francisco Braga, a idéia é que essas cidades que não foram diretamente relacionadas ao CRER, mas que se encontram sob a área de influência, saibam aproveitar sua cultura religiosa para atrair o turista. “Por exemplo, quando o peregrino chegar em São João del-Rei, esperamos que ele se interesse pelas festas religiosas da área de abrangência, como uma festa em Nazareno. Não é para o peregrino só chegar em uma cidade do Caminho Religioso e sair correndo para a próxima, deve conhecer a região”, explica Braga. “E esses municípios devem saber aproveitar, atrair o turista”, conclui.

Reuniões
Uma reunião com os atores locais será realizada em São João no próximo dia 19, em local e hora ainda a definir, com o propósito de discutir o melhor trajeto para o Caminho Religioso.
O protocolo de intenções para a implantação do Caminho Religioso da Estrada Real: de Padroeira a Padroeira foi assinado em 12 de julho deste ano. De lá para cá, uma reunião de articulação comunitária já foi feita com diversos atores dos setores culturais, religiosos e comerciais são-joanenses, com o objetivo de definir as diretrizes do projeto na região.

Texto: Carol Argamim Gouvêa




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