O tratamento de doenças psiquiátricas em
Barbacena já foi até tema do livro-reportagem “Holocausto Brasileiro”. Nele, o
fotógrafo Luiz Alfredo relatou os horrores no manicômio da cidade que foi
fechado em 1980. Hoje, dados do Ministério da Saúde apontam que, em relação ao
tema Reforma Psiquiátrica, o município pode ser considerado um dos grandes
exemplos do país. A cidade conta com 24 residências terapêuticas e mais de 150
moradores.
Lucimar Pereira, pedagoga, coordenadora do
Museu da Loucura e funcionária do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB/FHEMIG),
ressaltou que a mudança na forma de tratamento melhorou a forma pela qual os
moradores reconhecem o trabalho realizado na cidade
- “No
passado, a cidade ignorava a existência do hospital por ele ter uma carga
negativa. Acredito que atualmente essa imagem foi mudada graças às grandes
transformações ocorridas no tratamento dos portadores de sofrimento mental e,
hoje, o hospital é referência na área de saúde mental”.
De acordo com a Coordenadora de uma das
Residências Terapêuticas, Leandra Vidal, a doença mental predominante na
Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais(FHEMIG) é a esquizofrenia, que consiste
na perda de contato com a realidade, alucinações, delírios, alterações de
desempenho e falta de motivação.
No ano de 2006, a Campanha da Fraternidade
teve como tema a inclusão de pessoas com deficiência. A arquidiocese do
município, que teve papel fundamental na mudança de tratamento dos pacientes,
disponibilizou uma verba para que os moradores que habitam as residências
terapêuticas tivessem vida fora do hospital. Muitos possuem empregos e
frequentam cursos profissionalizantes oferecidos especialmente para pessoas com
distúrbios mentais em tratamento.
“Ainda hoje o portador de sofrimento mental
carrega o peso do preconceito, porque a sociedade ainda carrega no olhar este
preconceito em relação à pessoa doente. O estigma é se olhar com diferença: o
preço de ser diferente”, finalizou Lucimar Pereira.
A
cidade dos loucos
Barbacena ficou conhecida como “Cidade dos
Loucos” em função dos sete hospitais psiquiátricos que abrigou até hoje. Essa
grande quantidade de casas é justificada pela temperatura da cidade, que por
ser muito fria, deixaria os “loucos” menos arredios. Em seu auge, o hospital
chegou a abrigar por volta de cinco mil pacientes que chegavam de todos os
cantos do país em um trem que ficou conhecido como “Trem de Doido”.
A maioria das pessoas que entravam no
hospital não saíam nunca mais. Os internos viviam em total abandono. Alguns
relatos indicam que os internos andavam nus e descalços e eram forçados a comer
comida crua. Para abrigar tanta gente, as pessoas dormiam juntas, as camas eram
retiradas e feno era espalhado pelo chão. Eles conviviam com ratos e muitos
morriam de desnutrição, desidratação e de outras doenças comuns. Pelo menos 60
mil pessoas morreram neste hospital.
No fim da década de 70, muitas denúncias
começaram a ser feitas contra o tratamento desumano que internos recebiam. O
ideal é que a pessoa portadora de necessidades mentais não seja retirada de seu
ambiente familiar e não fique trancada em um hospital.
Texto: Ana Luiza Fonseca/ VAN
Foto: Divulgação/Luiz Alfredo/Revista O Cruzeiro
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