#EVU - Sobre heróis, Oscar e jornalistas

por Mariane Fonseca*

Digito este texto enquanto o burburinho de mais uma cerimônia do Oscar começa a ficar mais alto – e o meu sono pré-segunda-feira avisa que só vou saber os resultados da premiação pela internet na manhã seguinte mesmo.

Em meio a isso, um lampejozinho: não há profissão mais caricata – no cinema – que a de jornalista. Sério. Primeiro porque existe um maniqueísmo gritante: nas telas ou somos profissionais invasivos, inescrupulosos, tudo-por-um-furo vestindo terninhos e saias-lápis; ou heróis que vão desde o fuxiqueiro metido a detetive da Polícia Civil – em território tupiniquim, digamos – ao misterioso (com carinha de geek) Clark Kent.

A Dona Aranha escreveu uma manchete... veio a editora e a derrubou 

Ok, sejamos justos. Na vida real, mesmo descabelados, com olheiras, unhas quebradas, camisetas surradas e internet lenta temos lá o nosso charme quase hollywoodiano. E talvez sejamos, sem o humor, as tiradas ácidas e a paixão por Mary Jane, um pouco Peter Parker. Sim... o profissional que aceita “freelas”, por vezes lida com editores aos berros e – jamais perderia a chance de dizer isso – vive pendurado nas teias das linhas editoriais.



E isso não poderia ficar de fora na Oficina de Produção Jornalística. Ao longo dos encontros que terminaram nos textos para o especial Vida Universitária, muitas foram as brechas e vários foram os desvios até mesmo da pauta prometida para estudo enquanto nos debruçávamos sobre materiais recortados de diferentes veículos sobre variados assuntos e sob uma chuva absoluta de reações – principalmente nas redes sociais.

O que queríamos? Copiar formas e estilos? Não. Perceber, nas entrelinhas, posicionamentos argumentativos, sociais e culturais que se transformavam, em última instância, em jornalísticos. Aliás... esse processo se faz lá atrás, antes mesmo da elaboração da pauta.

Os posicionamentos são inerentes, se confundem com o veículo, estão emaranhados na história dele, no porquê de sua existência e do público que quer angariar. Isso quer dizer, portanto, que nós jornalistas somos obrigados a (re)aprender a escrever cada vez que somos contratados para um serviço e aceitamos as implicações dele.

Algo ruim? Não. Definitivamente não. Isso só mostra o quanto essa atividade se reconstrói, se multiplica e ganha diferentes roupagens. Quem diria, 15 anos atrás, que os blogs ganhariam a proporção que têm hoje?

Jornalismo: ser E não ser

Antes plataformas online para postagens pessoais, os “diários online” se transformaram, em pouco tempo, em estruturas democráticas para produção de conteúdo que saiu das margens e em muitos casos já se posiciona como fonte oficial de informação. Eles são capazes, inclusive, de gerar capital.


Por que estou batendo nessa tecla? Pelo simples fato de que é preciso sim absorver os modelos produtivos e estilísticos tradicionais. Sim, caro jornalista (nada “futuro”. Você já é um): leads sempre serão leads e extremamente necessários para a mensagem que chegará ao seu leitos. Pirâmides são tão essenciais quanto os ossos que sustentam seu cotovelo próximo ao teclado do computador agora. E acima de tudo: responder às perguntas do leitor – num clássico exercício de incorporação espírita-social-jornalística – é primordial.

Mas esses moldes são móveis e se adaptam a outras questões: suportes veiculares, contextos, linhas editoriais (sim, de novo) e mesmo o estilo próprio do redator – que obviamente não fica de fora.

Como mesclar tudo isso respeitando sem desonrar Gutenberg? Bom, aceitando as condições do tempo, da experiência, do dia-a-dia em redações. Ao longo da produção de todo o trabalho do Vida Universitária, de notebooks quebrados, Black Fridays desrespeitando prazos de entrega, atividades de graduação, desencontros, fontes arredias e pautas transformadas, não foram poucos os debates colocando sob holofotes todas essas questões.

“Por que não devo escrever dessa forma?”.

“Por que essa informação é importante?”.

“E se minha fonte gritar comigo?”

“Por que preciso colocar essa informação como discurso direto?”

“Onde está meu advogado?”.

Exageros à parte, a grande lição é essa: há roteiros a serem seguidos. Mas também há limites a serem quebrados, padrões a serem combatidos e muitas palavras a serem cortadas. Não é o fim. Lá na frente, em algum momento, o seu erro hoje pode ser o acerto na visão do seu editor. E vice-versa. A crítica ácida permitida no Vida Universitária pode ser cortada em outro lugar.  


Nessa hora, meu amigo, respire fundo e siga a vida. Você precisa protagonizar esse enredo com maestria sem tapete vermelho, Oscar ou burburinho. Ainda assim será belo. Já é. 



* Mariane Fonseca é Comunicadora Social graduada pela PUC Minas em Arcos e mestre em Letras - Discurso e Representação Social pela UFSJ. Repórter da Gazeta de São João del Rei, redatora na agência Mapa de Minas e freelancer da Rock Content. Porque sim e porque jornalista abraça o mundo mesmo até parar num consultório homeopata sofrendo com estafa.

** #EVU - O Especial Vida Universitária é resultado de uma oficina de texto dada pela jornalista Mariane Fonseca para integrantes da Vertentes Agência de notícias e saiu às segundas-feiras de 05/01/2015 a 23/02/2015.

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