O futebol de base de São João del-Rei

Dificuldades financeiras dos clubes e a necessidade de mudanças estruturais marcam o trabalho com os garotos são-joanenses


A derrota da seleção brasileira para Alemanha por 7 a 1 pela Copa do Mundo no Brasil, em julho de 2014, reacendeu a discussão sobre o panorama atual do futebol no país. Uma maior atenção para as categorias de base seria, para muitos, a solução para que o Brasil volte a ter o melhor futebol do mundo.                     

Em São João del-Rei, mesmo com uma realidade bem diferente dos grandes clubes que se destacam no cenário nacional, algumas equipes se esforçam para manter o trabalho com meninos de todas as idades. Muito se fala do grande potencial do futebol da local.         

Alguns jogadores como Fábio Mineiro, que rodou pela Europa e jogou uma Libertadores pelo Jorge Wilstermann, da Bolívia, André Luiz, que jogou na França e passou por Atlético-MG e Palmeiras, Beto, que jogou no Ipatinga, são alguns dos atletas que saíram dos campos são-joanenses e se tornaram profissionais. 

Para o jornalista Frederico Mesquita, da Rádio Emboabas, a base da cidade é uma das que mais se destacam no campo das Vertentes. “São João del-Rei tem uma das principais bases da região. Nós temos clubes tradicionais que já revelaram bons atletas. Aqui temos um grande celeiro de bons jogadores”, comentou o jornalista.

Apesar da tradição, atualmente, a maioria dos clubes são-joanenses enfrentam problemas financeiros e estruturais, o que prejudica o trabalho nas categorias iniciais do futebol, podendo afetar a formação dos atletas.

Para Edvaldo Cabral, que trabalha voluntariamente no São Caetano, falta apoio do poder público. “A gente não tem apoio nenhum. Se nós não corrermos atrás, não conseguimos nada” afirmou. O técnico em enfermagem Paulo César, que está ligado ao Minas, contou que, em São João del-Rei, o campeonato Amador é muito mais valorizado que os torneios das categorias de base. “Aqui olham muito para o Amador. Deviam olhar mais para a base, já que, assim, tiramos os meninos das ruas”, enfatizou o técnico em enfermagem.

Graduado em Educação Física e com uma pós-graduação em futebol pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), o treinador Ricardo Campos, o Cacá, que trabalha no Social, afirmou que, para que o futebol de São João del-Rei forme mais jogadores, além de um maior apoio do poder público, deveria existir maior qualificação dos profissionais que trabalham com a base da cidade. “Todas as pessoas que trabalham no nosso futebol deveriam se preocupar em se qualificar. Precisamos também do apoio do poder público, para colocarmos um menino para disputar um campeonato com maior visibilidade”, explicou o treinador.

A cobrança excessiva por resultados aos garotos é outro problema. Tiago Augusto, coordenador geral da escolinha do Athletic, afirmou que os jovens da cidade são talentosos, mas essa metodologia é equivocada. “O grande problema é a pressão por resultados. A gente tem uma cultura de todo mundo querer ganhar. Às vezes, você monta um time para ser campeão e não um time pensando no juvenil, lá na frente” pontuou Tiago.



O coordenador de futebol da Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer de São João del-Rei, Márcio José dos Santos, o Neném, que trabalha com o futebol de base há 41 anos, também concordou que o método de cobrança insistente é equivocado:

– “A intenção da maioria dos clubes aqui é ser campeão. Na base, nunca se exige ser campeão, deve ser feito um trabalho educativo e social primeiro”.

Neném reconheceu também que os clubes precisam de mais apoio, mas disse que a prefeitura esse ano contribuiu muito com os clubes. “Nós ajudamos em tudo. Demos transporte, pagamos toda a arbitragem, demos bolas e lanches para o mirim e o pré-mirim. Nossa intenção é fazer o melhor”, ressaltou. Ele também destacou alguns projetos da prefeitura que podem contribuir com a evolução do futebol de base são-joanense:

– “Ano que vem nós vamos fazer o projeto “Amigos do Esporte”, que isenta os clubes de pagar o IPTU. Esperamos fazer uma parceria com eles. Tenho também a ideia de montar uma seleção de São João del-Rei, juntar todos os clubes para disputar o campeonato mineiro”. 

Segundo Cacá, essa seria uma boa ideia para que os atletas pudessem ter maior visibilidade no cenário esportivo. “Se juntarmos os clubes, o poder público e o lado empresarial da cidade, dá para criar um time da cidade com os melhores profissionais e os melhores meninos, assim eles iriam aparecer mais e os clubes iriam vir buscar os garotos”, explicou.          

O ponto da reformulação da base da Alemanha depois da Copa de 2002 foi lembrado por Tiago, do Athletic. Para ele, a parceria feita entre as escolas e os clubes alemães poderia ser implantada no Brasil, o que contribuiria muito para a formação dos atletas. “Poderia ser instituída uma parceira aqui. Quem sabe se os alunos ficassem em tempo integral, o aluno saía da escola e ia pro campo. Com certeza o interesse ia aumentar e a qualidade do trabalho também”, afirmou Tiago.

Mesmo com as dificuldades, alguns clubes da cidade, como Athletic e o Social, buscam alternativas, como o apoio privado, para manter as atividades nas categorias de base. 
         
De certa forma, em um primeiro momento, o trabalho é de âmbito social. Mas também existe o objetivo de formar atletas. Em novembro, um observador técnico do Cruzeiro esteve no campo do Social para avaliar o desempenho de alguns jogadores. Três jogadores do Athletic também passaram uma semana em avaliação no Atlético-MG. Para Neném, isso revela o potencial de São João e o que deve ser feito. ”Material humano a gente tem. Temos é que olhar com carinho para os meninos”, ressaltou o coordenador.

Texto: Richardson Freitas/ VAN
Foto: Leonardo Duque 

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