São João del-Rei se prepara para o seu tradicional Carnaval de rua, que começa dia 15 deste mês, porém é cada vez maior a preocupação da população com alguns transtornos que já se tornaram comuns nessa época do ano, como o aumento da violência e a falta de limpeza durante a festividade. Thiago Morandi, assessor de comunicação da Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer de São João del-Rei, afirma, no entanto, que haverá um aumento este ano na contratação de seguranças particulares para garantir o bem-estar dos foliões e a proteção do patrimônio histórico da cidade.
Morandi certifica ainda que haverá um aumento na quantidade de banheiros químicos, de forma que serão melhor distribuídos, sendo uma parcela fixa e a outra acompanhando os blocos. De acordo com o assessor de comunicação, “a expectativa é de que minimizem esses problemas. O Iepha/MG (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais) soltou uma série de normas que a gente tem que seguir em relação à proteção ao patrimônio público”.
Apesar disso, segundo pesquisa realizada pela Vertentes Agência de Notícias, 53% dos entrevistados afirmaram não pretenderem participar do Carnaval são joanense. Dentre os principais motivos apontados estão os transtornos causados durante o evento (45%), seguido por visita a familiares (26%), a preferência por outros lugares (23%) e outros motivos (6%). Dentre os entrevistados que não irão participar do Carnaval 51,6% são naturais da cidade.
A situação causa preocupação na população, que em geral vê nesses problemas um obstáculo à sua diversão. “O problema do Carnaval daqui é que não há infraestrutura. Não tem banheiros públicos, uma coleta de lixo e uma higienização adequada depois da festa. O cheiro de urina é muito forte e tem muito lixo”, aponta o gerente administrativo Marcelo Paulino. Ele completa que é necessário que haja maior organização com relação aos vendedores ambulantes, que sofrem com a falta de estrutura, não havendo barracas padronizadas com água encanada. Além disso, o gerente administrativo afirma que é necessário que seja cobrada dos ambulantes maior higiene.
A balconista Tatiane Natalia Silveira reclama da falta de segurança e policiamento, mas acredita que alguns dos chamados “transtornos” podem ser compreendidos como comuns ao Carnaval, porque, de acordo com ela “o pessoal quer aproveitar, quer brincar, quer zoar”. A dona de casa Lucimara Cristina Ribeiro acrescenta que a festividade pode vir a incomodar algumas pessoas, mas não aqueles que gostam de sair e se divertir. Ela comenta ainda que antigamente ocorriam problemas maiores, “mas agora está bem mais tranquilo o carnaval”.
Airton Freitas é proprietário de uma loja no centro da cidade e disse que este ano fechará o seu estabelecimento para aproveitar o evento. “Sabendo brincar de forma sadia, [o Carnaval] é muito bom, faz bem para a saúde e para a mente”, diz.
Segundo estimativas da Secretaria, mais de 80 mil pessoas participarão do Carnaval e serão movimentados 6 milhões de reais na economia local. Será disponibilizado o Telefolião, para que sejam encaminhadas dúvidas e sugestões através do (32) 3371-8606 e (32) 3371-3704. O evento começará no dia 15 deste mês com o “Bloco Carnavalesco Cachaça com Mel Chora Borel”, na Praça da Igreja São Francisco de Assis, no centro da cidade.
VAN/Luana Levenhagen e Willian Carvalho
Foto: Thiago Morandi
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O CARNAVAL DE SÃO JOÃO DEL REI - MG:
ResponderExcluirEu acho que tradicionalmente, o carnaval de rua em São João del-Rei – MG sempre foi e deveria se esforçar para continuar a ser um fenômeno comunitário mais valorizado!
O melhor carnaval é o que vem das ruas, quando é o povo que o organiza e o faz! E a terra são-joanense está cheia de manifestações populares onde corre solta a criatividade; é isto também que ainda não deixou a tradição do nosso carnaval acabar. Falo do verdadeiro carnaval, o das pessoas nas ruas, se divertindo, que é o melhor da festa!
Chamo a atenção para o nosso pré-carnaval, o espetáculo das bandas, que sempre foi e é sucesso absoluto... É esse o carnaval da participação comunitária, das bandinhas livres, das marchinhas, das fantasias mais improvisadas. São manifestações que dão oportunidades para liberação do pensamento popular.
Lamentavelmente, em várias cidades, incluindo a mineira São João del-Rei, autoridades estão optando por proibir e/ou limitar a festa, ao invés em vez de buscar mais e melhores alternativas para oferecer segurança aos foliões, para defender o patrimônio cultural, abrindo espaços à liberação da alegria popular.
Foi o carnaval popular, dito “de rua”, que ficou famoso e mais deu fama à festa em São João del-Rei. Este tipo de manifestação poderia estar sendo mais fomentada e renascendo com muita força, possibilitando que os espectadores não apenas assistam ao carnaval, mas que o vivam e participem ativamente dele.
Parece que ao invés disto, por este tipo de manifestação estar sendo limitada, tudo está ficando bastante maculado na sua essência que, é a alegria livre do povo na rua, extravasada e que deveria não ter a hora marcada para terminar!
Creio que deveria haver bem mais apoio e investimento na “Folia das Ruas”, e não tanto nas chamadas Escolas de Samba e seus desfiles, que consomem a maior parte da generosa verba oficial.
O carnaval de rua também traz boa ocupação hoteleira e impacta positivamente a outros setores econômicos. Além disto, são representações culturais bem mais democráticas que promovem congraçamentos sociais, um evento criado e gerido pelo povo e para o povo, com ampla participação popular, sem formalidades, sem cobranças de ingressos.
Penso que em certo momento mais recente da nossa história as escolas de samba – que já por aqui já tiveram seu tempo áureo e atraíam atenção, mas que hoje são meros arremedos desse tempo que se passou – geraram até mesmo uma espécie de intervenção danosa na manifestação popular espontânea.
Foi adotado uma espécie de “muro” que acabou separando o povo do carnaval que é organizado pelas escolas: adotou-se a portaria, passaram a cobrar entradas, etc. Então, entramos numa fase que pode ser denominada de Escola de Samba S.A. (Sociedade Anônima), onde passes são negociados, o artificialismo entrou no processo, empresas entraram na jogada de ganharem com o carnaval, que seja apenas na sonorização e montagem de arquibancadas, por exemplo.
Então, a criatividade espontânea popular ficou como que um pouco bitolada, pois há artificialidades demais, calendários, horários (que são apenas fictícios, pois não são respeitados), lista de jurados, interesses financeiros, dias de decisões...
Ou será que não é ou não deve ser assim?