Marlon De Paula
Foto: Priscila Natany
Os hospitais psiquiátricos da cidade de Barbacena foram a
inspiração da primeira turma de formandos pelo curso de teatro da Universidade
Federal de São João del-Rei para compor a peça teatral denominada “Estarção”. Participam
do espetáculo os alunos e atores Ana Malta, Marijara Nery e Talles Ramon, sob direção
de Priscila Natany e orientação da professora Juliana Mota. A peça apresentada
como trabalho final do curso ocorrerá em São João del Rei, e será
avaliada por uma banca examinadora no dia 17 de abril deste mês.
O tema da peça, segundo a atriz Ana Malta, surgiu pelo
conto de Guimarães Rosa “Sorôco, sua mãe, sua filha” que cita a cidade considerada
como “cidade dos loucos” pelo grande número de hospitais psiquiátricos
instalados desde o ano de 1903. Os loucos que chegavam à cidade em sua maioria
vinham de trens de todos os lugares de Minas Gerais. O trem que realizou por
anos esse tipo de transporte ficou popularmente conhecido como “Trem de Doido”.
Se apropriando da história, a peça narra a espera dos
personagens Mauro e Aurora, em uma estação de trem, em busca do destino incerto, e cria-se
nesse ambiente uma atmosfera onírica e repleta de esperanças. A diretora da
peça relata que a construção da peça foi através de intensa investigação na
cidade de Barbacena, e pesquisas em filmes e textos sobre as histórias que
rodeiam os fatos. “Aquele contexto ficou muito mais perto de nós. Foi um choque
com a realidade passada.Nós mergulhamos nesse universo da loucura optando
abordá-lo com sutilidade e delicadeza. É muito comum lidar com violência e
amargura nessa temática. A nossa proposta é mostrar o outro lado”conta Priscila
Natany.
“Assim que chegamos lá encontramos com duas pessoas que
estavam internadas lá há muito tempo. Carinhosamente apelidados de Beijinho e
Rosinha, observá-los acrescentou na construção dos personagens.” Relembra
Marijara que conta as experiências vividas nas pesquisas de campo e as
conversas e depoimentos colhidos através de diversos personagens da cidade.
O que seria loucura?
Muitos pacientes qualificados como loucos, apresentavam
distúrbios mentais ou simplesmente postura subversiva aos padrões conservadores
na época, quando as internações atingiram o apogeu na
cidade. Homossexuais, mães solteiras e moças que perdiam a virgindade eram
enviadas para serem tratados em Barbacena. Lidar com a loucura na peça, segundo
a diretora, tem como objetivo desmistificar a loucura pelo seu significado
social. “Quisemos abordar o lado bom da loucura, que não é só obscura, e
salientamos também uma crítica ao julgamento da sociedade frente às diferenças.”
Explica a diretora Natany.
*O espetáculo será gratuito e
apresentado ao público às 20h na sala Preta do Campus Tancredo Neves.
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