Diálogo Tônico: Uma conversa que dispensa palavras


Pesquisa da UFSJ comprova a existência de comunicação corporal nos primeiros meses de vida dos bebês. 
Compreender a relação mãe-bebê nos três primeiros meses de vida a partir do referencial teórico do médico e psicólogo francês Henri Wallon (1879- 1962). Este foi o objetivo da pesquisa desenvolvida entre 2010 e 2011 pelo professor Dener Luiz da Silva, da área de Psicologia Educacional e Escolar da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).
A pesquisa de iniciação científica, financiada pela FAPEMIG, teve início em abril de 2010 e encerrou as atividades daquela fase no primeiro semestre de 2011. Agora o professor tenta continuar os estudos, com bebês maiores que três meses, submetendo novo projeto à Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais.
A Teoria de Wallon trabalha com o diálogo tônico, a comunicação sem o uso da língua construída entre dois seres humanos. Wallon acredita que o bebê dialoga com a mãe por meio de suas reações corporais e desde o momento da concepção, já podem começar a construir o diálogo tônico, através da fala da mãe e carícias da mesma, com a sua barriga. As sensações intrauterinas, que o bebê vai vivenciar dessa intimidade, são de fundamental importância para o seu desenvolvimento após o parto.
Na pesquisa desenvolvida na UFSJ foram analisados os estados hiper e hipotônico dos voluntários. Quando o corpo está rígido, ele está em um estado hipertônico. Significa que a pessoa tem alguma insatisfação e possui uma necessidade fisiológica. Já quando o corpo está relaxado, quer dizer que está satisfeito, o que caracteriza o estado hipotônico. Conforme explica Dener, com base na teoria de Wallon, este é o primeiro estágio de comunicação do ser humano, o que promove vínculo social.
A pesquisa foi realizada para tentar confirmar esta teoria, que foi proposta no século XX pelo psicólogo francês.
Wallon foi o primeiro a levar não só o corpo da criança, mas também suas emoções, para dentro da sala de aula. Fundamentou suas ideias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa.
Para analisar a teoria de Wallon, os alunos Marina Sacramento e Rodolfo Batista do curso de Psicologia da UFSJ acompanharam quatro mães primíparas (que deram a luz ao primeiro filho) durante os três primeiros meses do bebê. ”Escolhemos as mãe primíparas para que pudéssemos ter um padrão entre os sujeitos de pesquisa. Se acompanhássemos uma mãe do primeiro filho e outra do segundo, seria impossível fazer essa comparação. As mães de primeira viagem apresentam maiores problemas de saúde pública, como frequentes cólicas nos bebês, e depressão pós-parto nas mães. Nosso objetivo também foi trazer melhorias para a relação dessas mães com seus bebês”, contou o professor.
A pesquisa recrutou mães voluntárias por meio do portal da Universidade e, segundo Dener, houve uma dificuldade em encontrar mães dispostas a participar. “Os primeiros meses do bebê são muito delicados. A pesquisa é um pouco invasiva, pois a gente pediu para entrar na casa das mães, observar o banho, a amamentação. Existem problemas éticos que tivemos que lidar com muito cuidado. Por isso a presença da Marina, como mulher, foi importante pra deixar as mães mais à vontade”, comentou.
Dener é presidente da Comissão de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPES) da UFSJ e diz que a Comissão acompanha as pesquisas, garantindo que os sujeitos de pesquisa tenham seu bem estar preservados.
Marina diz que houve uma preocupação com a saúde dos voluntários. “Se estivéssemos com algum problema de saúde, mesmo que gripados, nós não íamos fazer as observações para preservar a saúde das mães e dos bebês. E nos dias em que eles não estavam se sentindo bem, nós também não íamos”, afirmou. A aluna disse que, por esse motivo, houve atrasos no estudo, mas que eles foram permitidos para garantir o bem estar de todos.
Rodolfo salienta a importância de se ter dois observadores em cada visita. “Nós íamos juntos porque enquanto eu observava o diálogo tônico disparado pela mãe, a Marina observava o diálogo tônico disparado pelo bebê, ou vice-versa. Assim conseguíamos ver ambas as reações e logo após cada análise nós escrevíamos um relato com nossas observações”, contou o aluno. Além de utilizar essas anotações para o desenvolvimento da pesquisa, eles também deixavam uma cópia dos relatos com as mães.
O professor afirma que ainda são necessários alguns dados para ter mais certezas sobre o diálogo entre mãe e bebê. “O que a gente concluiu é que existe mesmo esse diálogo. A mãe diz algo com o corpo dela tentando acalentar o bebê e ele responde se acalmando ou chorando mais”, esclareceu Dener Luis. Segundo o pesquisador, esse diálogo não é totalmente harmonioso. Não pode ser comparado a um diálogo convencional entre duas pessoas que falam português e têm domínio da língua. O bebê responde aquilo que é imediato, ou seja, aquilo que é corporal nele, enquanto a mãe tenta entender isso e responder da forma adequada.
O pesquisador pretende dar continuidade ao projeto, acompanhando crianças de 4 meses a 8 meses. Segundo o professor Dener, a próxima etapa se justifica, pois há uma variação muito grande no diálogo entre mãe e filho de 1 a 3 meses, e de 4 a 8 meses. “O bebê desenvolve muito rápido a sua capacidade de comunicação, tornando-se mais autônomo e a mãe por sua vez vai aprendendo a ler os sinais.” conclui.

O Pesquisador
Dener Luiz da Silva é formado em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e doutor em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais – com período “sandwiche” na Universidade de Genebra, na Suíça. Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal de São João Del-Rei, onde ministra aulas e atua nos seguintes temas: Psicologia Educacional e Escolar, História da Psicologia, Extensão Universitária, Prática do Psicólogo Escolar e Educação.

Texto: Luis Gustavo Silva dos Santos
Foto: ufsj.edu.br

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