Trabalhadores informais dividem opinião em Tiradentes

Tiradentes é uma cidade conhecida por seu valor histórico e sua arquitetura colonial. A pequena cidade é visitada por turistas de vários lugares, o que se reflete diretamente em sua economia, gerando um vasto campo comercial. Os trabalhadores não-registrados de Tiradentes e de outras regiões se aproveitam desses potenciais para movimentar a economia informal. 
     A prefeitura de Tiradentes não apresenta dados específicos a respeito da economia informal na região. Porém, a chefe do setor de Assistência Social, Elizabete Maria de Paiva, por meio de informações coletadas para o programa Bolsa Família, afirma que 50% dos moradores da cidade que trabalham pertencem ao setor informal. Nesta porcentagem estão inseridos todos os tipos de empregos sem carteira assinada, o que inclui desde diaristas a vendedores ambulantes. Elizabete também afirma que a porcentagem daqueles que circulam nas ruas da cidade é significativa e que, de fato, tal situação divide opiniões entre os moradores de Tiradentes. Contudo, a funcionária diz que o conflito se intensifica quando os trabalhadores informais são viajantes, desconhecidos pela população. Nesse caso, alguns comerciantes chegam a chamar a polícia para lidar com esses elementos.

O trabalhador informal não paga impostos diretos a União e por isso não possui proteção do Estado. Normalmente, é aquele que não foi absorvido pelo mercado de trabalho convencional ou o que prefere as características específicas desse tipo de trabalho. O setor informal é um desafio mundial, sobretudo nos países em desenvolvimento.
Em Tiradentes, o doceiro José Luiz Oliveira produz e vende doces caseiros a cerca de 15 anos. O tiradentino possui uma vasta freguesia que considera fiel. De quarta a sábado, o doceiro vende seus produtos em pontos habituais de sua rotina e a transeuntes. Aposentado por invalidez, José Luiz tem como fonte de renda o valor de sua aposentadoria e o dinheiro da venda de doces, que considera satisfatório. Questionado sobre os prós e contras da maneira como trabalha, ele aponta a liberdade que o comércio informal permite como um dos principais privilégios desse tipo de profissão. “Se hoje eu pudesse escolher entre voltar a assinar [a carteira de trabalho] ou não, eu continuaria assim”. O trabalhador também afirma que a concorrência é salutar, pois há espaço para todos devido à peculiaridade dos produtos em circulação na região. José diz que seu trabalho é respeitado e bem aceito pelos comerciantes formalizados.
Já a artesã Gilda Kerves diz que há, em geral, muita discriminação contra o trabalhador informal. Para ela, o preconceito aumenta quando se trata de hippies, associados no imaginário coletivo a vagabundagem e irresponsabilidade. Uruguaia, Gilda trabalha há dez anos com artesanato e já viajou por todo o território brasileiro vendendo a arte que produz. Ela afirma que foi muito difícil se estabelecer, já que no Brasil há resistência a esse tipo de atuação. Gilda comenta que muitos comerciantes se sentem prejudicados e acham que perdem clientes. Ainda assim, a artesã acredita na potencialidade de seu trabalho. Ela gosta do que faz e afirma que, graças à maneira como vive, é “dona de seu tempo”.
Uma comerciante de doces e artesanatos (que prefere não ser identificada) afirma que os vendedores ambulantes atrapalham e prejudicam o mercado formal. Segundo ela, a economia informal faz com que perca clientes, pois os ambulantes chegam até a porta de seu estabelecimento para vender e para “roubar sua freguesia”. Há 28 anos produzindo doces e produtos artesanais, a tiradentina se sente injustiçada porque paga vários impostos para expor e comercializar o que produz, enquanto os comerciantes informais “invadem” a cidade e vendem o que produzem sem pagar nada. Ela chama os vendedores ambulantes de “pára-quedistas” e disse que a situação se agrava em épocas movimentadas. “São aproveitadores de ocasiões”, afirma. A vendedora considera necessária a intervenção da prefeitura, que, para ela, deve tornar o comércio informal ilegal.
Por outro lado, Maristela Maria da Silva, funcionária da Panificadora Toledo, declara que a presença do mercado informal não atrapalha o desempenho econômico dos estabelecimentos formais. Ela acha que o fato de os trabalhadores ambulantes não pagarem impostos não diminui a importância do papel deles na economia. A vendedora acredita que a circulação de ambulantes não interfere em suas vendas, dizendo que existem gostos e perfis variados e que é possível a inserção de todos no mercado de trabalho.
Esse tipo de atuação divide opiniões entre os comerciantes formalizados a respeito da presença desses trabalhadores. De acordo com o economista Lúcio Costa, diretor do Departamento de Controle Urbano da cidade do Rio de Janeiro, em entrevista para o site Camêlo, mão de obra expulsa, as principais causas da informalidade são a alta taxa de impostos e as leis que dificultam a formalização do trabalho. 

Texto: Adriano Moura 

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