Jornalismo e Religião


JB Vital mineiro, nascido em 1947 na cidade de Barão de Cocais, é um jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), casado com quatro filhos. Quando jovem, JB foi seminarista e, mesmo tendo decidido sair do seminário e seguido a carreira jornalística, JB continuou sua pesquisa com temas ligados à igreja, tendo sido também assessor na campanha de políticos como Tancredo Neves e Hélio Garcia. Ele passou também por grandes veículos de comunicação. Seu interesse sobre a igreja fez com que escrevesse um livro, “Como se faz um Bispo”, que está em sua segunda edição.
JB Vital esteve em São João del-Rei para ministrar uma palestra, que foi a aula inaugural do segundo semestre de 2013 para os alunos do curso de Comunicação Social da UFSJ. Na ocasião, ele contou mais sobre suas experiências, falou de sua profissão e do conteúdo de seu livro. Logo após a palestra, que durou cerca de 30 minutos, JB Vital abriu para que os presentes fizessem as perguntas.

1. O senhor chegou a ser coroinha e depois seminarista. O que o levou a seguir essa vida, e por que você não se tornou padre?
O evangelho tem uma frase que diz o seguinte: “muitos são chamados, mas poucos são os escolhidos”. Eu não fui escolhido, então é isso aí, eu entrei no seminário em 1959, eu tinha 11 anos. Fui estudar em BH e eu percebo hoje como o seminário marcou a minha vida, minha formação, minha índole, temperamento. Hoje eu encontro com meus amigos seminaristas em Belo Horizonte - nós temos um grupo muito grande que faz encontros - e eu vejo o seguinte: nós todos somos mais ou menos parecidos. [No grupo] tem médicos, engenheiros, jornalistas, advogados, mas que têm uma marca, como um tipo de gente que está meio deslocada, que não sabe se esse é o mundo dela mesmo, sabe? Mas é bacana.

2. Desde a escolha do Bispo Mathias (o primeiro Bispo), os Bispos já foram escolhidos de formas variadas. Na sua opinião, qual seria a maneira correta de escolher um Bispo?
Realmente o primeiro Bispo, sucessor dos apóstolos, foi escolhido no sorteio, porque Judas Iscariotes havia se matado e era necessário preencher a vaga dele. Os bispos são considerados sucessores dos apóstolos e hoje eles são escolhidos pelo Papa, há um processo muito refinado, muito interessante, em que os candidatos passam por uma triagem muito grande, um esquema de investigar a vida de todo mundo e, mesmo assim, de vez em quando passa algum que não é lá muito bento não! No passado já foi diferente. Durante muito tempo, os Bispos foram escolhidos por seu fiéis, pela comunidade, depois a coisa foi evoluindo, até chegar nesse sistema atual, em que o vaticano nomeia, com a ajuda dos seus núncios apostólicos, o embaixador do Papa. Então, cada tempo tem o seu modo de escolher. Imagina hoje, em que tudo é feito à base da disputa política e para escolher uma diretora de uma escola tem disputa, imagina a escolha de um Bispo! Então eu acho que é a melhor forma que está sendo feita.

3. No seu livro, Como se faz um Bispo, como surgiu a ideia de abordar a figura do Bispo? O que te levou a pensar nessa questão?
Sempre me ficou uma dúvida, eu tinha uma pulga atrás da orelha. Por que alguns são escolhidos e outros não? E nem sempre os mais brilhantes é que são escolhidos Bispos. Então, eu tenho mil histórias de como é que são feitos os Bispos, tem muitas piadas, mas também tem muito caso de pessoas que são escolhidas, como dizem, pelo Espirito Santo. 

4. Hoje você ocupa a cadeira n° 4 da academia de letras em Mariana, desde o ano passado. Como isso reflete em seu trabalho?
Primeiro foi um susto, eu não esperava quando me convidaram, eu fiquei como todo jornalista quando entra para Academia de Letras, o Carlos Castelo Branco que merecia com todas as razões ser membro levou um susto, O Oto Lara Rezende, daqui de São João, também ficou assustado. E muitos outros jornalistas ficam assim, porque quem faz literatura faz jornalismo, nós sabemos que o jornalismo não é bem literatura no sentido estrito da palavra, pois nós cobrimos o fato, a notícia. No meu caso, eu tenho procurado escrever livro-reportagem, e é sobre isso que eu quero falar aqui hoje em São João, dentro de um tema que, no meu caso, é o tema da igreja.

5. Qual mensagem o senhor tem para passar para os alunos de jornalismo que estão entrando na carreira?
Primeiro eu vou cumprimentar todo mundo, porque eu fiquei sabendo que o curso de jornalismo daqui ficou em terceiro lugar no ENADE. Segundo, eu vou dizer o seguinte: jornalismo é sensacional, isso é vocação mesmo, tem que procurar seguir o seu instinto e fazer jornalismo. E é uma forma de tentar melhorar o mundo. Eu estou participando de uma associação chamada “Associação Internacional de Jornalistas de Religião”, uma associação que nós fundamos em Bellagio, na Itália, ano passado. Tem gente do mundo inteiro, do Paquistão, África, Mórmon, tem todo tipo de gente, e a nossa ideia é fazer do jornalismo uma forma de reduzir a intolerância religiosa. Quanta guerra já foi feita no mundo por causa de religião! Então, eu acho que o jornalismo pode acabar com a intolerância e promover a compreensão entre os povos. 

VAN/Fernanda Rezende
Foto: Fernanda Rezende

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