Bebidas artesanais criam oportunidades na região


Um dos atrativos do Campo das Vertentes são as bebidas artesanais. Parte do cotidiano dos moradores da região, elas também são apreciadas por turistas, que encontram nelas um pouco da famosa culinária mineira.

Joana Ferreira Alves produz 38 sabores de licor. Tudo feito de forma artesanal, utilizando frutas, álcool e garrafas de bebidas vazias. Trabalha sozinha e consegue produzir em média 70 litros de licor por mês.  Aprendeu a arte no orfanato onde morava em São João del-Rei: “Tinha uma irmã lá que fazia, então eu ia visitá-la e ela me ensinava''. Desde então, Joana começou a fazer as bebidas e vender em sua própria casa. Até hoje ela produz tudo sozinha, desde a escolha das frutas ao envase do licor. Mesmo a preparação das garrafas para transporte, é ela quem faz.
As oportunidades da produtora aumentaram há cinco anos, quando passou a vender os licores na Associação de Artesãos Bárbara Bella. A partir de então, ganhou espaço no mercado, vendendo para turistas de todo o país. Agora, manda as bebidas para Alagoas (Maceió), Tocantins e São Paulo. Além disso, o licor virou prato em Tiradentes: “Veio um senhor aqui comprar e comentou comigo que meu licor de jabuticaba fazia parte de um dos pratos do restaurante dele. Até me convidou pra ir provar, mas não fui até hoje”, conta ela rindo. Bares de São João del-Rei também servem drinks feitos com seu licor. Joana é um exemplo de como as bebidas artesanais fazem parte da culinária e da cultura da região.
Segundo o proprietário da adega Salute, Luiz Arthur Fiche de Carvalho, as cachaças feitas nesse pedaço de Minas estão entre as melhores do país: “É uma cachaça produzida em menor quantidade do que umas outras que são fabricadas no Nordeste ou no norte de São Paulo. Mas, são diferenciadas porque é um produto de qualidade superior. São produtos bem melhores”. Ele explica que esse diferencial vem do fato de que todo o processo de produção é concentrado nos alambiques, desde a plantação da cana até a fermentação. “O produtor não pega cana de outros produtores pra fazer a sua cachaça. Ele produz o seu próprio canavial, ele tem controle sobre o seu cultivo e tudo. Então por isso que são cachaças boas. E tem tradição”, afirma.
Tradição essa que já é parte do imaginário brasileiro sobre o mineiro. A cachaça forte, vinda dos antigos alambiques dos tempos coloniais, que muitos associam à imagem do mineiro caipira, representa hoje um dos principais itens da culinária de Minas. Movimenta o turismo da região, assim como a economia. Para o produtor de cerveja artesanal, Vinícius Luiz Ferreira, a degustação dessas bebidas se tornou um atrativo a mais por aqui. "Os turistas que vêm visitar Tiradentes querem conhecer vários aspectos da cultura local e a produção de cervejas artesanais é um deles", declara.
Ao perceber que a produção artesanal de cervejas poderia ser explorada em Tiradentes, Vinícius decidiu investir no mercado. Ele é proprietário da Cervejaria Tiradentes, que se localiza logo na entrada da cidade com mesmo nome. Sua produção pode ser menos caseira do que a de Joana Ferreira, mas também é considerada artesanal, já que ele produz pouca cerveja e realiza praticamente todos os processos dentro da pequena cervejaria. "Chego a produzir 20 mil litros e distribuo apenas em Tiradentes, com a exceção de alguns eventos isolados, mas é raro", conta ele.
Mesmo assim, Vinícius explica que o mercado para esse segmento está se ampliando cada vez mais. "A produção de cervejas artesanais representava 2% do mercado de cerveja no país. Hoje, já chegamos a 10%", diz. Para ampliar ainda mais o consumo de cervejas artesanais na região, o cervejeiro vai participar do primeiro festival TremBier, dedicado às bebidas artesanais e realizado em Tiradentes. O evento começa no dia 12 de outubro, sexta-feira, e vai até o dia 14, domingo, envolvendo degustação de cervejas, palestras, workshops, cursos e shows; tudo relacionado ao setor.
Para Vinícius, ações como a do festival são importantes para chamar ainda mais os turistas. "Hoje ainda não podemos dizer que os turistas vêm para Tiradentes especificamente para degustar cervejas, mas acredito que essa seja nossa meta", destaca ele. Desta forma, quanto mais incentivo o setor receber, mais a cultura local será motivada, criando mais motivos para atrair turistas.

Box Licor:

Entre os 38 sabores de licor produzidos por Joana, destacam-se o de framboesa, jabuticaba, anis e chocolate, que são os mais vendidos. Há também tipos mais exóticos, como sapoti e jenipapo.
O processo de produção já começa na compra das frutas, que são escolhidas a dedo e depois limpas, para um licor de maior qualidade. Após a limpeza, Joana as coloca em infusão no álcool por quinze dias, e passa mais três coando tudo. Para engarrafa-las, utiliza garrafas usadas, que são esterilizadas e enfeitadas com uma corda de sisal. Por fim, coloca um rótulo com o nome e dados.  ''Muitas pessoas de fora chegam aqui em casa pelas informações do rótulo'', conta.

Box cerveja:

A produção da cerveja artesanal da Cervejaria Tiradentes envolve dois processos: o da mostura, que é quente, e o da fermentação, que é fria. O primeiro processo consiste em uma espécie de "chá" com os grãos de malte, colocando água em temperaturas específicas para determinados tipos de produção e coando. A "água" que sobra da filtragem, que na verdade se chama mosto, tem uma grande quantidade de açúcares. Depois disso, o mosto vai para a fase de fervura, onde será adicionado o lúpulo, que é o ingrediente que determina o nível de sabor da cerveja. Da fervura, a cerveja sai esterilizada, com as enzimas inativadas e com os açúcares caramelizados. Para que a cerveja agora fique límpida, o mosto é esfriado rapidamente. Já a fermentação do mosto é realizada pela levedura, que consome o açúcar e produz gás carbônico e álcool. A fermentação pode ser feita em temperatura ambiente, mas o adequado é ter temperatura controlada, o que ajuda a fermentação e não produz sabores indesejados na cerveja. No caso da Cervejaria Tiradentes, existe uma sala com a temperatura controlada. Depois disso, a cerveja fica um tempo na maturação, podendo variar de semanas a meses, para só depois ser envasada. Na Cervejaria Tiradentes, Vinícius vende a cerveja em barris de 40 litros.

Reportagem: Iris Marinelli, Carol Argamim Gouvêa, Adriano Moura e Quéfrem Vieira.
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